JOQUEBEDE DE HIGIENÓPOLIS – Amilton Alvares


  
 

Sandra Maria, empregada doméstica, escondeu a gravidez dos patrões, cuidou do próprio parto e, por medo de perder o emprego, já que mora na casa onde trabalha, com uma filha de três anos de idade, tomou a difícil decisão de abandonar o bebê recém-nascido na rua Piauí, debaixo de uma árvore. Ficou observando à distância até uma pessoa de bem recolher o bebê e levar a criança para a Santa Casa. Sandra foi detida e vai responder a processo por abandono de incapaz. Corre o risco de perder a guarda da outra filha. E não faltaram manchetes nos jornais chamando Sandra de mãe cruel e sem coração.

Triste mundo em que vivemos. Dar paulada nessa mãe é ato de pura insensibilidade. É não fazer caso da miséria imposta aos descamisados desta nação, desamparados diante de políticas públicas equivocadas de um sistema corrupto e iníquo. O sistema não promove a gravidez assistida e não ampara os infantes, cujas mães – trabalhadoras sem carteira assinada, são obrigadas a pegar duro no batente logo após o parto, para assegurar o sustento da família. E quando fica evidenciada a injustiça, também é certo que não há inocentes. Somos todos culpados!

O bebê tem de ser restituído à própria mãe. E a sociedade tem o dever de amparar Sandra, a filha de três anos e a recém-nascida. Se for para tirar tudo de Sandra, nós temos que reescrever a história de Moisés, cuja mãe, Joquebede, deixou o menino, ainda bebê, no rio Nilo, com risco de afogamento. O resto da história todo mundo conhece. Moisés poderia ter morrido, mas veio para a História como o grande libertador dos hebreus e tem lugar de destaque na Bíblia, homem que falou face a face com o Senhor.

Deus cuidou de Moisés e certamente cuidará do bebê abandonado por Sandra. Por ironia, até a rua do abandono é símbolo de miséria – Piauí! Sejamos sensíveis e diligentes com as três vidas em perigo. A Justiça dos homens não pode atrapalhar a ação de Deus, que está mobilizando e sensibilizando pessoas diante do fato. Muita gente vai querer adotar a criança. Alguns até sugeriram o nome Valentina. Melhor mesmo é que a criança permaneça com a própria mãe, assistida pela sociedade. A nossa Joquebede de Higienópolis só precisa do repasse de um pouquinho da graça e da misericórdia que recebemos de Jesus Cristo na cruz do Calvário. Ela precisa do genuíno amor cristão que tudo perdoa. Legalismo nessa hora será trapo de imundícia (Isaías 64.6).

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* O autor é Procurador da República aposentado, Oficial do 2º Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de São José dos Campos/SP, colaborador do Portal do Registro de Imóveis (www.PORTALdoRI.com.br) e colunista do Boletim Eletrônico, diário e gratuito, do Portal do RI.

Como citar este devocional: ALVARES, Amilton. JOQUEBEDE DE HIGIENÓPOLIS. Boletim Eletrônico do Portal do RI nº. 0189/2015, de 09/10/2015. Disponível em https://www.portaldori.com.br/2015/10/09/joquebede-de-higienopolis-amilton-alvares/  Acesso em XX/XX/XX, às XX:XX.

Publicação: Portal do RI (Registro de Imóveis) | O Portal das informações notariais, registrais e imobiliárias!

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