TJ/RJ: Órgão Especial considera inconstitucional lei que cria cotas para negros e índios em concursos públicos

O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio considerou inconstitucional a Lei Estadual 6.740/2014 que reserva aos negros e índios 20% das vagas em concursos públicos do estado. Por maioria, os desembargadores acompanharam o voto do relator (desembargador Marco Antonio Ibrahim).

A Lei 6.740/2014 alterava outra norma (6.067/2011) que determinava que concursos para cargos efetivos e empregos públicos do Poder Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas do Estado e do Poder Executivo, além das instituições que compõem a Administração Indireta deveriam criar uma reserva de 20% das vagas para negros e índios. A maioria dos desembargadores entendeu que a matéria continha vício de iniciativa.

A notícia refere-se ao seguinte processo: 0025273-88.2014.8.19.0000.

Fonte: TJ/RJ | 13/10/2014.

Publicação: Portal do RI (Registro de Imóveis) | O Portal das informações notariais, registrais e imobiliárias!

Para acompanhar as notícias do Portal do RI, siga-nos no twitter, curta a nossa página no facebook, assine nosso boletim eletrônico (newsletter), diário e gratuito, ou cadastre-se em nosso site.


STF: Julgamento sobre demarcação de terras indígenas no MS deve ser concluído na próxima semana

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal prosseguiu, na sessão desta terça-feira (9), com o julgamento do Recurso Ordinário em Mandado de Segurança (RMS) 29087, apresentado pelo proprietário rural Avelino Antonio Donatti contra a declaração de sua fazenda como sendo de posse imemorial (permanente) da etnia guarani-kaiowá, integrando a Terra Indígena Guyraroká, no Mato Grosso do Sul. Em voto-vista, a ministra Cármen Lúcia manifestou-se pelo provimento do recurso.

A ministra seguiu a divergência aberta pelo ministro Gilmar Mendes na sessão de 24/6/2014, no sentido de dar provimento ao recurso interposto pelo proprietário rural. O relator, ministro Ricardo Lewandowski, votou pelo desprovimento, por entender que o mandado de segurança não é o instrumento judicial adequado para discutir uma questão de tal complexidade. Com a votação em 2 a 1, impedido o ministro Teori Zavascki, a Turma decidiu concluir o julgamento na próxima sessão, a fim de colher o voto do ministro Celso de Mello.

Salvaguardas

Segundo a ministra, o voto divergente do ministro Gilmar Mendes “é mais consentâneo” com as salvaguardas fixadas pelo Plenário do STF no julgamento da PET 3388, que tratou da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Naquela ocasião, decidiu-se que o marco temporal da ocupação indígena seria a data da promulgação da Constituição Federal de 1988, em 5/10 daquele ano.

A ministra ressaltou que não há controvérsia quanto à inexistência de índios na região naquela data, conforme atesta o laudo antropológico que subsidiou o processo administrativo que resultou na demarcação da Terra Guyraroká, transcrito nos autos. Segundo este documento, os índios ocuparam a região até o início da década de 1940, quando os fazendeiros começaram a comprar terras do estado e tornaram inviável sua permanência no local. Até o início da década de 1980, alguns grupos indígenas permaneceram no local como peões de fazenda, como parte da estratégia de permanência nas terras onde sempre viveram, mas nessa época as últimas famílias deixaram o local.

“O laudo afasta quaisquer dúvidas sobre a anterior ocupação indígena na região onde está o imóvel, adquirido em agosto de 1988”, afirmou a ministra. “Há mais de 70 anos não existe comunidade indígena na região”.

“Desassossego”

A ministra Cármen Lúcia manifestou, no início de seu voto, seu “desassossego” diante da dificuldade de uma solução judicial que atenda igualmente aos anseios da comunidade indígena, “há muito desapossada de suas terras, muitas vezes agravada em seus direitos fundamentais e na dignidade da pessoa humana”, mas também do produtor rural, “que, confiando na validade de título de domínio outorgado pelo próprio poder público, se vê ameaçado no que considera seu direito”. O equacionamento do problema, segundo ela, deve-se fundamentar “na garantia das relações sociais e na confiança que todos devem ter nos atos estatais”.

Para a ministra, o reconhecimento da tradicionalidade da ocupação indígena, neste caso, apenas pela posse imemorial instauraria “um grave caso de insegurança jurídica a desestabilizar a harmonia que hoje gozam cidadãos até mesmo em centros urbanos que, em tempos remotos, foram ocupados por comunidades indígenas”.

Ela chamou atenção para o “desolador quadro de instabilidade social e jurídica” existente na região, “que tem desamparado ambos os lados da disputa pela terra”, mas ressaltou que o problema não tem passado despercebido ao Poder Judiciário, “que não se distanciou de sua incumbência constitucional de analisá-la em profundidade, apresentando alternativas para construir soluções capazes de pôr fim a um conflito no qual não há vencedores, apenas vencidos, todos em situação de desagrado e desolação quanto a seus direitos, que nunca se veem plenamente atendidos”.

A notícia refere-se ao seguinte processo: RMS 29087.

Fonte: STF | 09/09/2014.

Publicação: Portal do RI (Registro de Imóveis) | O Portal das informações notariais, registrais e imobiliárias!

Para acompanhar as notícias do Portal do RI, siga-nos no twitter, curta a nossa página no facebook, assine nosso boletim eletrônico (newsletter), diário e gratuito, ou cadastre-se em nosso site.


Direito à terra ainda é a principal luta dos índios no Brasil

Dos aspectos indígenas que perduraram ao longo dos séculos após a colonização, um se mantém arraigado entre os descendentes dos primeiros habitantes das Américas. Apesar de serem habitualmente lembrados pela cultura, religiosidade, costumes ou culinária, a maior e mais árdua herança passada para cada geração de índios do Brasil é a luta pelo direito à terra.

Em pleno século 21, a reivindicação por terras indígenas se faz tão atual quanto nos tempos dos colonizadores, com a diferença de que hoje está melhor articulada, tem o apoio das novas tecnologias e um número maior de simpatizantes da causa, facilitado pelas redes sociais. Mas os entraves também ficaram mais robustos. Com o apoio ainda limitado do governo federal e os projetos de modelo econômico do País, o direito básico dos índios foi preterido, retardando as demarcações de reservas indígenas por décadas.

"Atualmente, 'um bando de sem-terra' que quer voltar a ter uma terra, de um modo geral, consegue uma boa terra em cinco anos". Foi assim que o antropólogo indigenista e professor da Universidade da Bahia (Uneb), José Augusto Sampaio, respondeu a uma aluna que, durante a palestra dele, disse acreditar que 'os índios são um bando de sem-terra disfarçados'.

Com mais de 20 vinte anos de estudos sobre os índios, Sampaio, que também é diretor da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí), calcula que o tempo médio para a conclusão do processo de demarcação de territórios indígenas é de cerca de 30 anos. "Não é uma terra qualquer", afirmou o antropológo, comparando com a situação do MST que busca áreas produtivas em lugares diversos. "É aquela terra, onde os mortos estão enterrados, onde tem uma história deles ali", complementa.

Na Bahia, que possui a quarta maior população de índios do Brasil – cerca de 50 mil reconhecidos -, três povos lutam, atualmente, para terem as reservas homologadas pelo governo federal: os Tupinambás de Olivença (em Ilhéus), os Pataxós (Porto Seguro) e os Tumbalalás (Rodelas). Enquanto os Tumbalalás, situados ao norte do Estado, em municípios ribeirinhos já na divisa com Pernambuco, enfrentam as dificuldades devido às obras de transposição do Rio São Francisco, os Tupinambás no sul e os Pataxós no extremo sul da Bahia, disputam o espaço com os grandes produtores de cacau, celulose, madeira, minérios e empresários do turismo hoteleiro.

A situação mais grave é na região sul, por ser uma área de conflitos, onde há registros de assassinatos de índios e constantes ameaças. O relatório Violência contra os Povos Indígenas do Brasil de 2011, elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), aponta que cinco índios foram assassinados naquele ano na Bahia, dos 51 mortos em todo o Brasil. As vítimas eram todas Pataxós e, conforme o levantamento, em três casos o crime está aparentemente relacionado com as disputas territoriais. "Enquanto não houver vontade política, a situação vai permanecer porque os índios não vão recuar", garante Sampaio.

Somente neste mês, os Tupinambás de Olivença promoveram oito retomadas em diversas áreas – sendo a maioria em territórios indígenas -, para pressionar o governo federal a homologar a demarcação das reservas cujos relatórios já foram entregues pela Fundação Nacional do Índio (Funai) ao Ministério da Justiça. Os Pataxós também aguardam o posicionamento do órgão. Em ambos os casos, os relatórios foram concluídos há pelo menos três anos e estão emperrados no Ministério.

O antropólogo José Augusto Sampaio espera que, como ocorreu em anos anteriores, o governo anuncie a conclusão do processo nesta sexta-feira (19), por conta da comemoração do Dia do Índio. Mas as lideranças indígenas não estão muito confiantes. "A gente tem ficado sem uma interlocução com esse governo", lamentou o cacique Cláudio Tupinambá, 45 anos, que considera a gestão da presidente Dilma Rousseff refém das bancadas ruralista e evangélicas, formadas por representantes e proprietários dessas terras.

Apesar de não haver registros recentes de violência, o líder indígena ressalta que o clima de medo é constante e as ameaças são sistemáticas. O cacique denuncia a existência de milícias e grupos armados comandados pelos latifundiários. "O governo está esperando que aconteça alguma catástrofe. Há uma possibilidade de confronto real", alerta.

PECs – Outros dois problemas podem estragar as comemorações do Dia do Índio neste ano. A Câmara dos Deputados está se mobilizando para avaliar dois Projetos de Emenda Constitucional (PECs) que resultariam em derrotas significativas para os povos índigenas brasileiros. A PEC 215/2000, que possibilita a revisão de demarcações de terras indígenas já homologadas e a PEC 237, deste ano, a qual torna possível a concessão de terras indígenas a produtores rurais e ainda transfere do Poder Executivo para o Congresso Nacional a decisão final sobre a demarcação das reservas.

"A demarcação virou moeda de troca para o governo", disparou o cacique Cláudio Tupinambá, que promete acionar organismos internacionais para garantir os direitos assegurados aos índios. Na quarta-feira (17), a Câmara chegou a criar uma comissão especial para discutir a questão. Após o anúncio da proposta, centenas de índios ocuparam o plenário da Câmara nesta semana e o presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) acabou suspendendo a sessão.

Nesta sexta (19), o Ministério Público Federal (MPF) promoverá uma audiência pública, às 14h, no Auditório Juscelino Kubitschek da Procuradoria Geral da República, em Brasília, como parte de uma mobilização nacional em defesa das terras indígenas. stá prevista a participação de 70 povos indígenas, além de representantes do Ministério da Justiça, Funai, da Câmara dos Deputados, Advocacia-Geral da União (AGU), Incra e das Secretarias de Direitos Humanos e de Articulação Social da Presidência da República.

CONQUISTA – Um exemplo da morosidade no processo de demarcação é a Reserva Indígena Caramuru-Paraguaçu, que abrange os municípios de Itaju do Colônia, Camacan e Pau Brasil, no Sul da Bahia. A delimitação dessa área foi feita em 1937 pelo antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI), mas o processo de luta pela área só começou em 1982, quando a Funai deu entrada no pedido de anulação dos títulos de propriedade distribuídos pelo governo estadual nas décadas de 1960 e 1970 a fazendeiros.

Mais de 30 índios Pataxó Hã-Hã-Hãe morreram durante o período de disputa, entre eles o cacique Galdido Jesus dos Santos que, depois de ser confundido com um mendigo, foi queimado vivo por jovens de classe média alta, em 1997. Na época, o índio tinha dormido em um ponto de ônibus de Brasília, depois de ter passado o dia participando de manifestações em comemoração ao Dia do Índio, na capital federal.

A demarcação da reserva Caramuru-Paraguaçu foi oficializada no dia 2 de maio de 2012 – três décadas após o início da luta -, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou os títulos de propriedades dos fazendeiros, em um placar final de sete votos favoráveis e um contra.

Fonte: Site NE 10. Publicação em 18/04/2013.