TJ/SP: Pedido de Providências – Recurso administrativo interposto contra decisão proferida pelo Corregedor Geral da Justiça, dando parcial provimento a recurso anteriormente interposto – Decisão administrativa proferida no âmbito de revisão por órgão superior – Reexame da matéria nesta mesma esfera que não se mostra cabível – Recurso não conhecido.

Número do processo: 220785

Ano do processo: 2017

Número do parecer: 184

Ano do parecer: 2018

Parecer

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

Processo CG n° 2017/220785

(184/2018-E)

Pedido de Providências – Recurso administrativo interposto contra decisão proferida pelo Corregedor Geral da Justiça, dando parcial provimento a recurso anteriormente interposto – Decisão administrativa proferida no âmbito de revisão por órgão superior – Reexame da matéria nesta mesma esfera que não se mostra cabível – Recurso não conhecido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça

Trata-se de recurso interposto contra a r. decisão[1] do então Corregedor Geral da Justiça, Desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças, que aprovou o parecer[2] da lavra da Juíza Assessora Dr.ª Paula Lopes Gomes, e deu parcial provimento ao recurso administrativo interposto contra a r. decisão[3] proferida pelo MM. Juiz Corregedor Permanente do 2º Tabelião de Notas e Protesto de Letras e Títulos da Comarca de Presidente Prudente/SP para reduzir a multa fixada para o patamar de R$ 100.000,00.

É o relatório.

Opino.

O recurso não merece ser conhecido.

Assim se afirma, pois o recorrente reitera, neste recurso administrativo, os fundamentos que anteriormente adotou no recurso a que foi dado parcial provimento.

Ocorre que o presente feito tem natureza administrativa, sendo igualmente administrativas as atividades processuais desenvolvidas em primeira instância e nesta instância recursal, incluindo, por evidente, a decisão proferida contra a qual o recorrente ora se insurge.

A rigor, por se tratar de decisão administrativa proferida no âmbito de revisão por órgão superior, não se concebe, sequer, novo exame da matéria nesta mesma esfera. Nesse sentido:

“Registro de Imóveis – Recurso especial interposto contra decisão do Corregedor Geral da Justiça, que negou provimento a recurso administrativo – Descabimento – Matéria decidida nesta esfera administrativa, não comportando nenhum outro recurso Processamento do recurso especial indeferido” (Parecer do Dr. Carlos Henrique André Lisboa, MM Juiz Assessor da Corregedoria, aprovado pelo Exmo. es. PEREIRA CALÇAS, Corregedor Geral da Justiça, no processo nº 1030481-25.2015.8.26.0576, j. 22/02/2017 – g.n.).

Sobre o tema, dispõem as Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, no Capítulo XXI, que:

“item 24. Das decisões do Juiz Corregedor Permanente caberá recurso para o Corregedor Geral da Justiça, no prazo de quinze dias.

24.1. Das decisões disciplinares originárias do Corregedor Geral da Justiça caberá recurso, no mesmo prazo, para a Câmara Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.”

A decisão do então Corregedor Geral da Justiça, atacada pelo recurso em análise, acolheu o parecer anteriormente lavrado nestes autos e deu parcial provimento ao recurso interposto, reduzindo a pena de multa imposta pelo MM. Juiz Corregedor Permanente ao ex-tabelião.

Assim sendo, o presente recurso não foi interposto contra decisão disciplinar originária do Corregedor Geral da Justiça, razão pela qual não mostra configurada a hipótese prevista no subitem 24.1. do Capítulo XXI das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça.

Nem mesmo a alegação da ocorrência de prescrição aproveita ao recorrente, visto que, sob tal fundamento, pretende rediscutir a questão referente ao suposto excesso de prazo na conclusão do processo, o que já foi devidamente afastado na decisão recorrida.

E ainda que assim não fosse, importa ressaltar que é pacífica a jurisprudência do E. STJ, no sentido de que o termo a quo do prazo bienal de prescrição previsto pela Lei 8.935/94 é a ciência inequívoca das irregularidades havidas na serventia:

“ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. DISCIPLINAR. CARTÓRIO. MULTA. ATO DE PREPOSTO. FRAUDE. FALTA DE FISCALIZAÇÃO DO TITULAR. ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. MÉRITO. DEVER DE FISCALIZAÇÃO. ART 21 E 22 DA LEI 8935/94. PRECEDENTE. FALHA DE FISCALIZAÇÃO. EVIDENCIADA. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO.

1. Recurso ordinário interposto contra acórdão no qual foi denegada a ordem ao mandado de segurança impetrado para anular penalidade administrativa aplicada em razão de deficiência na fiscalização de cartório por seu titular. O recorrente alega a prescrição da pretensão punitiva e a ausência de responsabilidade do delegatário pelos atos de seu preposto.

2. Não há falar em prescrição da pretensão punitiva na multa aplicada pela Corregedoria, uma vez que o prazo bienal se iniciou com a ciência inequívoca de irregularidades havidas no 1º Tabelionato; a ciência de outras irregularidades cometidas pelo mesmo preposto, quando vinculado ao 2º Tabelionato não são aptas a justificar o início do prazo prescricional em questão.

3. O Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência no sentido de que os arts. 21 e 22 da Lei n. 8.935/94 atribuem a responsabilidade dos titulares de cartórios pelos atos praticados por seus prepostos: RMS 23.587/RJ, Rel. Ministro Francisco Falcão, Rel. p/ Acórdão Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 3.11.2008.

4. No caso concreto, está clara a falta administrativa do cartório em relação à fiscalização dos atos praticados pelos seus prepostos, que se consubstanciaram na falsificação de guias de recolhimento de impostos, com recibos dados com oposição do timbre da serventia extrajudicial; logo, afigura licita a atribuição de responsabilidade administrativa, com a aplicação de multa, com base no art. 33, II, da Lei n. 8.935/94.” (RMS 46311, Rel. Min. Humberto Martins, j. 24.02.15, DJe 03.03.15).

E mesmo se admitida, em tese, a aplicação do prazo bienal aludido, a prescrição não teria se consumado, eis que, do momento do conhecimento das irregularidades perpetradas pelo investigado à elaboração da portaria, não houve o transcurso de dois anos.

Mas a prescrição igualmente inocorre, com mais razão, porque o prazo aplicável à hipótese não é o de dois anos, incidente quando a pena máxima imponível é a de multa, mas o de cinco anos, cabível para os casos em que a sanção mais rigorosa cabível é a de perda de delegação, como se passa na situação presente[4].

Diante do exposto, o parecer que respeitosamente submeto à apreciação de Vossa Excelência é no sentido de que o recurso interposto não seja conhecido.

Sub Censura.

STEFÂNIA COSTA AMORIM REQUENA

Juíza Assessora da Corregedoria

DECISÃO: Aprovo o parecer da MM.ª Juíza Assessora da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, não conheço do recurso interposto. Publique-se. São Paulo, 04 de maio de 2018. (a) GERALDO FRANCISCO PINHEIRO FRANCO, Corregedor Geral da Justiça – Advogado: LUIZ ANTONIO GALIANI, OAB/SP 123.322.

Diário da Justiça Eletrônico de 10.05.2018

Decisão reproduzida na página 082 do Classificador II – 2018

Fonte: INR Publicações

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STJ: Recurso extraordinário – Administrativo – Notários e registradores – Vinculação ao regime previdenciário dos servidores públicos estaduais – Recurso extraordinário admitido.

RE nos EDcl no AgRg no RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 32.206 – RS (2010/0091612-3)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA

RECORRENTE : AYRTON BERNARDES CARVALHO

ADVOGADO : ADEMIR CANALI FERREIRA E OUTRO(S) RS006965

RECORRIDO : ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROCURADOR : ANNE PIZZATO PERROT E OUTRO(S) RS047384

INTERES. : INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

EMENTA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. NOTÁRIOS E REGISTRADORES. VINCULAÇÃO AO REGIME PREVIDENCIÁRIO DOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO ADMITIDO.

DECISÃO Decisão selecionada e originalmente divulgada pelo INR

Trata-se de recurso extraordinário, interposto por AYRTON BERNARDES CARVALHO, com fundamento no artigo 102, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal, contra acórdão da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, ementado nos seguintes termos (fl. 445):

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. NOTÁRIOS E REGISTRADORES. VINCULAÇÃO A REGIME PREVIDENCIÁRIO PRÓPRIO DOS SERVIDORES

PÚBLICOS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.

1. O Superior Tribunal de Justiça tem firme entendimento de que não é possível a vinculação dos notários e registradores a regime previdenciário próprio dos servidores públicos, porquanto a equiparação a servidores públicos, ocorrida antes da EC 20/1998, diz respeito, apenas, às regras para a aposentadoria compulsória, não havendo falar em direito adquirido. Precedentes.

2. Agravo regimental não provido.

Em seu recurso, às fls. 499/561, alega o recorrente, em síntese, que há repercussão geral da matéria e que foram violados os artigos 5º, XXXIV e 32 do ADCT da Constituição Federal. Para tanto, afirma que deve ser salvaguardado o direito dos tabeliães que tenham implementado os requisitos para aposentadoria no regime próprio de previdência antes do advento da Emenda Constitucional 20/98.

Contrarrazões apresentadas às fls. 661/670.

É o relatório.

Decido.

A controvérsia posta versa acerca da vinculação de notários e registradores ao regime próprio de previdência social dos servidores públicos estaduais.

Em consulta ao sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal, constatou-se que o Pretório Excelso já se pronunciou acerca do mérito da questão, em sede de Recurso Extraordinário, valendo conferir, a propósito, os seguintes julgados:

APOSENTADORIA – NOTÁRIOS E REGISTRADORES – REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL – VINCULAÇÃO. Conflita com a Constituição Federal a concessão de aposentadoria a notários e registradores nos moldes próprios aos servidores públicos, ressalvado o preenchimento dos requisitos necessários ao alcance, ou continuidade, do recebimento do benefício em data anterior à vigência da Emenda Constitucional nº 20/1998 – circunstância não verificada. Precedente: ação direta de inconstitucionalidade nº 2.791, Pleno, relator ministro Gilmar Mendes, com acórdão publicado no Diário da Justiça de 24 de novembro de 2006.

(RE 1139910 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 27/11/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-026 DIVULG 08-02-2019 PUBLIC 11-02-2019)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. SERVENTUÁRIOS DE JUSTIÇA. NOTÁRIOS E REGISTRADORES. REGIME PREVIDENCIÁRIO DOS SERVIDORES PÚBLICOS. INAPLICABILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 283 DO STF. INCIDÊNCIA. AGRAVO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.

(RE 745460 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 11/12/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-292 DIVULG 18-12-2017 PUBLIC 19-12-2017)

DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SERVENTIAS JUDICIAIS. NOTÁRIOS E REGISTRADORES. APOSENTADORIA. IMPOSSIBILIDADE DE VINCULAÇÃO AO REGIME JURÍDICO PRÓPRIO DOS SERVIDORES PÚBLICOS. PRECEDENTES. SÚMULA 279/STF. 1. O Supremo Tribunal Federal possui firme jurisprudência no sentido de que o regime previdenciário próprio dos servidores públicos não se aplica aos escreventes juramentados e aos demais auxiliares da justiça, tendo em vista que não são detentores de cargo público efetivo. Precedentes. 2. Para se chegar à conclusão pretendida pela parte recorrente, no sentido do preenchimento dos requisitos para aposentadoria em data anterior à EC 20/1998, faz-se necessário o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, procedimento vedado neste momento processual, nos termos da Súmula 279/STF. 3. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC/1973.

(ARE 919883 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 16/12/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-027 DIVULG 09-02-2017 PUBLIC 10-02-2017)

No mesmo sentido, colhem-se reiterados precedentes, dos quais extraio os seguintes: RE 908337 AgR-ED, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 29/09/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-232 DIVULG 09-10-2017 PUBLIC 10-10-2017; RE 1001260 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 21/02/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 24-04-2017 PUBLIC 25-04-2017; ARE 919883 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 16/12/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-027 DIVULG 09-02-2017 PUBLIC 10-02-2017; ARE 915327 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 23/02/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-082 DIVULG 27-04-2016 PUBLIC 28-04-2016; ARE 766825 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 18/08/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-171 DIVULG 31-08-2015 PUBLIC 01-09-2015; ARE 800313 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 12/08/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-162 DIVULG 21-08-2014 PUBLIC 22-08-2014; RE 728939 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 19/11/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-233 DIVULG 26-11-2013 PUBLIC 27-11-2013.

Veja-se, ainda, acerca do tema, o entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado em Ação Direta de Inconstitucionalidade:

PREVIDENCIÁRIO E CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL QUE INCLUIU NO REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SEGURADOS QUE NÃO SÃO SERVIDORES DE CARGOS EFETIVOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ART. 40 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NECESSÁRIA VINCULAÇÃO AO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. 1. O art. 40 da Constituição de 1988, na redação hoje vigente após as Emendas Constitucionais 20/98 e 41/03, enquadra como segurados dos Regimes Próprios de Previdência Social apenas os servidores titulares de cargo efetivo na União, Estado, Distrito Federal ou Municípios, ou em suas respectivas autarquias e fundações públicas, qualidade que não aproveita aos titulares de serventias extrajudiciais. 2. O art. 95 da Lei Complementar 412/2008, do Estado de Santa Catarina, é materialmente inconstitucional, por incluir como segurados obrigatórios de seu RPPS os cartorários extrajudiciais (notários, registradores, oficiais maiores e escreventes juramentados) admitidos antes da vigência da Lei federal 8.935/94 que, até 15/12/98 (data da promulgação da EC 20/98), não satisfaziam os pressupostos para obter benefícios previdenciários. 3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, com modulação de efeitos, para assegurar o direito adquirido dos segurados e dependentes que, até a data da publicação da ata do presente julgamento, já estivessem recebendo benefícios previdenciários juntos ao regime próprio paranaense ou já houvessem cumprido os requisitos necessários para obtê-los.

(ADI 4641, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 11/03/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-067 DIVULG 09-04-2015 PUBLIC 10-04-2015)

EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 34, §1º, da Lei Estadual do Paraná nº 12.398/98, com redação dada pela Lei Estadual nº 12.607/99. 3. Preliminar de impossibilidade jurídica do pedido rejeitada, por ser evidente que o parâmetro de controle da Constituição Estadual invocado referia-se à norma idêntica da Constituição Federal. 4. Inexistência de ofensa reflexa, tendo em vista que a discussão dos autos enceta análise de ofensa direta aos arts. 40, caput, e 63, I, c/c 61, §1º, II, “c”, da Constituição Federal. 5. Não configuração do vício de iniciativa, porquanto os âmbitos de proteção da Lei Federal nº 8.935/94 e Leis Estaduais nºs 12.398/98 e 12.607/99 são distintos. Inespecificidade dos precedentes invocados em virtude da não-coincidência das matérias reguladas. 6. Inconstitucionalidade formal caracterizada. Emenda parlamentar a projeto de iniciativa exclusiva do Chefe do Executivo que resulta em aumento de despesa afronta os arts. 63, I, c/c 61, §1º, II, “c”, da Constituição Federal. 7. Inconstitucionalidade material que também se verifica em face do entendimento já pacificado nesta Corte no sentido de que o Estado-Membro não pode conceder aos serventuários da Justiça aposentadoria em regime idêntico ao dos servidores públicos (art. 40, caput, da Constituição Federal). 8. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

(ADI 2791, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 16/08/2006, DJ 24-11-2006 PP-00060 EMENT VOL-02257-03 PP-00519 LEXSTF v. 29, n. 338, 2007, p. 33-46)

Em que pese a conclusão adotada no âmbito deste Superior Tribunal de Justiça estar no mesmo sentido da orientação do Supremo Tribunal Federal, vê-se que a jurisprudência acerca do tema não foi, ainda, reafirmada no Plenário Virtual do Pretório Excelso em sede de Repercussão Geral, o que impede a negativa de seguimento do presente recurso com fundamento no artigo 1.030, inciso I, alínea “a”, do Código de Processo Civil, impondo-se a remessa dos autos à Corte Suprema.

Ante o exposto, presentes os pressupostos de admissibilidade, admito o recurso extraordinário, nos termos do artigo 1.030, inciso V, alínea “a”, do Código de Processo Civil.

Publique-se.

Intime-se.

Brasília, 03 de setembro de 2019.

Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA

Vice-Presidente /

Dados do processo:

STJ – RE nos EDcl no AgRg no RMS nº 32.206 – Rio Grande do Sul – Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura – DJ 09.09.2019

Fonte: INR Publicações

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Inventário – Direito internacional privado – Decisão que determinou a juntada de legislação civil estrangeira e outras providências – Recurso provido – Inventário – Direito Internacional Privado – Insurgência contra decisão que determinou a juntada de legislação civil estrangeira e outras providências – Efeito suspensivo indeferido – Falecido estrangeiro, com bens situados no Brasil – Art. 23, inciso II, do CPC – Impossibilidade, em tese, de aplicação da lei civil helvética, a qual não poderá ser mais favorável à cônjuge brasileira, nos termos do art. 5º, XXXI, da CR e do art. 10, § 1º da LINDB – As providências determinadas pelo juízo do inventário mostram-se desnecessárias – Legislação brasileira é mais benéfica à agravante, conforme art. 1.829, inciso III, do CC, porque faz desta única herdeira – Ausentes descendentes ou ascendentes, a cônjuge herda a totalidade dos bens do falecido, independentemente do regime de bens – Suposto testamento aberto na Suíça, aludido pela sobrinha do de cujus, não apresentado nas três oportunidades conferidas para tanto – O falecimento dos pais do autor da herança é presumível, diante dos dados demográficos daquele país – Evidência de que o falecido consta como proprietário dos bens inventariados, independentemente da grafia do nome – Decisão revogada, determinando-se o regular andamento do feito – Recurso provido.

ACÓRDÃO – Decisão selecionada e originalmente divulgada pelo INR –

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2146694-40.2019.8.26.0000, da Comarca de Santos, em que são agravantes MARIA JOVENTINA RODRIGUES (INVENTARIANTE) e JOSEF STUDER (ESPÓLIO), é agravada ELSA JUANITA STUDER FAMELI.

ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: “Deram provimento ao recurso. V. U.”, de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente sem voto), ELCIO TRUJILLO E SILVIA MARIA FACCHINA ESPÓSITO MARTINEZ.

São Paulo, 27 de agosto de 2019

J.B. PAULA LIMA

RELATOR

Assinatura Eletrônica

Agravo de Instrumento nº 2146694-40.2019.8.26.0000

Comarca: Santos (3ª Vara de Família e Sucessões)

Agravante: Maria Joventina Rodrigues (Inventariante)

Agravante: Josef Studer (Espólio)

Agravada: Elsa Juanita Studer Fameli

Voto nº 13.647

INVENTÁRIO. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. DECISÃO QUE DETERMINOU A JUNTADA DE LEGISLAÇÃO CIVIL ESTRANGEIRA E OUTRAS PROVIDÊNCIAS. RECURSO PROVIDO.

Inventário. Direito Internacional Privado. Insurgência contra decisão que determinou a juntada de legislação civil estrangeira e outras providências. Efeito suspensivo indeferido. Falecido estrangeiro, com bens situados no Brasil. Art. 23, inciso II, do CPC. Impossibilidade, em tese, de aplicação da lei civil helvética, a qual não poderá ser mais favorável à cônjuge brasileira, nos termos do art. 5º, XXXI, da CR e do art. 10, § 1º da LINDB. As providências determinadas pelo juízo do inventário mostram-se desnecessárias. Legislação brasileira é mais benéfica à agravante, conforme art. 1.829, inciso III, do CC, porque faz desta única herdeira. Ausentes descendentes ou ascendentes, a cônjuge herda a totalidade dos bens do falecido, independentemente do regime de bens. Suposto testamento aberto na Suíça, aludido pela sobrinha do de cujus, não apresentado nas três oportunidades conferidas para tanto. O falecimento dos pais do autor da herança é presumível, diante dos dados demográficos daquele país. Evidência de que o falecido consta como proprietário dos bens inventariados, independentemente da grafia do nome. Decisão revogada, determinando-se o regular andamento do feito. Recurso provido.

Trata-se de agravo de instrumento, tirado em processo de inventário, contra decisão reproduzida a fls. 10/13, a qual determinou à inventariante a juntada da legislação civil suíça, na parte em que descreve o regime de participação aos aquestos, bem como o regime de sucessão a ele aplicável, devidamente traduzida, no prazo de 30 dias, e a renovação da carta rogatória expedida para que, no mesmo prazo, a inventariante providente a sua tradução, além dos documentos que acompanham, comprovando a distribuição.

Por fim, concedeu igual prazo para que a inventariante junte as certidões de óbitos dos genitores do autor da herança, devidamente traduzidas, comprovando, também, que Josef Studer e Giuseppe Studer são a mesma pessoa.

Inconformada, a inventariante invoca o artigo 10, § 1º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, segundo o qual a sucessão de bens de estrangeiro situados no País será regulada pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros.

Como o falecido não deixou ascendentes ou descendentes, a sucessão é deferia ao cônjuge.

Alega já ter feito prova da legislação suíça, insistindo com a aplicação da lei nacional, pouco interessando ao Juízo o disposto na lei alienígena.

Informa ainda não ter requerido a rogatória, não cabendo a ela procurar eventual testamento na Suíça ou em qualquer outro lugar do mundo. Descabida ainda a determinação para que localize certidões de óbito dos genitores do falecido marido, já que este morreu aos 93 anos.

Por fim, uma vez que na Suíça são falados quatro idiomas diferentes, não há necessidade de se provar que Josef Studer e Giuseppe Studer são a mesma pessoa, uma vez que o casal, quando lá manteve seu domicílio, residiu em cantão de língua italiana e de língua francesa.

Pugna pela concessão de efeito suspensivo à decisão guerreada, até o julgamento do presente recurso. No mérito, requer a revogação das determinações e o regular andamento do feito.

Efeito suspensivo indeferido (fls. 97/99)

Não houve interposição de contraminuta (certidão de fl. 103).

É o relatório.

Josef Studer, cidadão suíço, faleceu em 15/01/2011, na cidade de Montreaux, no cantão de Vaud, Suíça, aos 93 anos. Era casado com a brasileira Maria Joventina Rodrigues desde 21/01/1984 e, segundo consta, não deixou descendentes. Não há menção ao regime de bens adotado pelo casal (fls. 16/25;48/49).

A viúva promoveu o inventário na Comarca de Santos/SP, afirmando que o falecido marido era proprietário de 50% de uma gleba de terras no município de Jaguariúna/SP, além de 50% de dois imóveis urbanos, localizados em Santos (fls. 27/28). Ocorre que consta como proprietário dos imóveis arrolados o nome do suíço Giuseppe Studer, casado com Maria Joventina Rodrigues Studer sob o regime da comunhão universal de bens (fls. 30/47;50/56).

Insurge-se a agravante contra as determinações do Juízo a quo já relatadas.

Pois bem.

O artigo 5º, inciso XXXI, da Constituição da República, dispõe que “a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do ‘de cujus’”.

A norma está reproduzida também no artigo 10, § 1º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “Art. 10. (…) § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.”

Oportuna a lição do professor André de Carvalho Ramos:

“O fundamento do dispositivo atual é a proteção da família brasileira, evitando que a sucessão de bens lhe seja prejudicial, o que afetaria a sua qualidade de vida e sustento. Nota-se que a nacionalidade como fator de diferenciação foi mantida mesmo com a mudança da regra de regência do estatuo pessoal (da lei da nacionalidade para a lei do domicílio), deixando sem maior proteção os estrangeiros domiciliados no Brasil. (…) Em síntese, para a configuração do tratamento preferencial exige-se: (i) sucessão de estrangeiro; (ii) bens situados no Brasil (não atingindo os bens situados no exterior); iii) existência de cônjuge ou filhos brasileiros; e iv) uso da lei mais favorável aos brasileiros, seja a lei brasileira ou ainda a ‘lei pessoal’ do falecido, que pode ser a sua lei da nacionalidade ou ainda a lei do seu domicílio. Assim, no caso de sucessão de bens estrangeiros, mesmo se o falecido tiver domicílio em outro país, a lei utilizada será a brasileira no que tange aos bens situados no Brasil, desde que tal aplicação beneficie o cônjuge ou filhos brasileiros.” (Curso de Direito Internacional Privado. São Paulo: Saraiva, 2018, pp. 430-431.)

Logo, existe a possibilidade, ao menos em tese, de que a lei civil helvética seja aplicável na hipótese, a fim de beneficiar a própria viúva, cidadã brasileira.

Como afirma Camila de Jesus Mello Gonçalves respeito do sobredito § 1º do artigo 10 da Lei de Introdução:

“Tal disposição estende-se a bens móveis e imóveis situados no Brasil, relacionando-se à comparação entre as vantagens da lei do domicílio e a lei da nacionalidade do falecido e não à natureza dos bens por ele deixados. Exemplos de leis mais benéficas aos filhos são as leis francesa, italiana e portuguesa, que regulamentam a legítima de forma mais flexível, aumentando-a de metade até três quartos sobre a herança, dependendo do número de filhos.” (CUNHA FILHO, A. J. C. da; ISSA, R. H.; SCHWIND, R. W. (coord.) “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Anotada”: Vol. 1. São Paulo: Quartier Latin, 2019, pp. 547-548.)

Na hipótese dos autos, o de cujus não deixou descendentes (fls. 16/19), presumindo-se mortos seus ascendentes dada a idade provecta com que morreu 93 anos, em 2011.

Por certo, nos termos do artigo 181 do Código Civil suíço, aplica-se o regime de “participação aos aquestos” quando o casal não adota outro regime mediante assinatura de contrato de casamento (fls. 90/93). E como bem afirmou o Juízo a quo, “não há como se compreender no que consiste referido regime suíço, tampouco presumir que ele se assemelha ao regime brasileiro da comunhão universal de bens, como alega a parte.” (fl. 12)

Entretanto, a determinação para a que venha aos autos a legislação civil suíça na parte em que descreve o regime de participação aos aquestos e o regime de sucessão a ele aplicável revela-se desnecessária no caso sob exame.

Isto porque, independentemente daquelas normas, é evidente que a legislação brasileira é mais benéfica à cônjuge sobrevivente, como dispõe o artigo 1.829 do Código Civil:

“Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; IV aos colaterais.”

Diante da comprovada inexistência de descendentes e de ascendentes do de cujus, a cônjuge brasileira sobrevivente, ora agravante, herdará a totalidade dos bens de Josef Studer, despicienda a comparação legislativa.

Quanto ao suposto testamento aberto na Suíça, vê-se que se trata de mera alegação da agravada. Ademais, Elsa Juanita, por duas vezes, deixou transcorrer o prazo para comprovar a distribuição da carta rogatória, requisitando às autoridades suíças informações a respeito de disposição de última vontade deixada pelo falecido (fl. 11). Não bastasse, nada obstante intimada, não apresentou contraminuta, oportunidade na qual poderia apresentar ao menos indícios da existência do suposto testamento. (fl. 103)

Destarte, não se pode impor à recorrente a providência de trazer aos autos o suposto testamento, já que própria recorrida, sobrinha do de cujus, deixou de tomar providências nesse sentido por três vezes. No mais, a inventariante cumpriu com o disposto no artigo 618, inciso V, do Código de Processo Civil, ao juntar a certidão negativa testamento de fls. 82/83.

A juntada de certidão de óbito dos pais do de cujus também é completamente desnecessária.

Josef Studer, se vivo estivesse, contaria 102 anos (fls. 16/19). Se por hipótese seus pais, Resi Skringer e Franz Josef Stinger tivessem se casado ambos com 18 anos, teriam hoje 120 anos.

De acordo com o Office fédéral de la statisque (Agência federal de estatística) suíço, entre a geração nascida em 1876 e aquela nascida em 1917, a expectativa de vida aumentou aproximadamente 20 anos, passando de 43 para 63 anos no caso dos homens, de 47 para 70 anos no caso das mulheres. Somente em 2018 é que a expectativa ao nascer atingiu 81,7 anos, para os homens, e 85,5 anos, para mulheres. Mulheres que atingiram os 80 anos em 2018 esperam viver mais 10,5 anos, enquanto homens na mesma condição tem expectativa de mais 8,9 anos de vida.[1]

Assim, não há dúvidas de que os pais do de cujus são falecidos há muito tempo, para não dizer décadas, como demonstram as próprias condições demográficas daquele país.

Por derradeiro, despicienda a prova de que “Giuseppe” e “Josef” são a mesma pessoa. Basta observar que nas matrículas acostadas (fl. 31), consta como qualificação do comprador o fato de ele ser casado com a inventariante, tendo como domicílio a cidade de Montreaux, onde residiu desde que se casou e, ao que tudo indica, até o falecimento.

Assim, é de rigor revogação da decisão guerreada, determinando-se o regular processamento do feito.

Pelo exposto, DOU PROVIMENTO ao agravo, nos termos supra.

J. B. PAULA LIMA

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Fonte: INR Publicações

Publicação: Portal do RI (Registro de Imóveis) | O Portal das informações notariais, registrais e imobiliárias!

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