Câmara aprova urgência para proibição de casamento de menores de 16 anos

Deputados também aprovaram o regime de urgência para projeto que permite folga remunerada do trabalho aos avós, por cinco dias, após o nascimento de neto sem pai declarado. Ainda não há data prevista para votação das propostas

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta segunda-feira (26) o regime de urgênciapara dois projetos de lei em tramitação na Casa. Um deles proíbe, em todos os casos, o casamento de menores de 16 anos (Projeto de Lei 7119/17). O outro permite que avós tenham folga remunerada do trabalho por cinco dias após o nascimento de neto sem pai declarado (Projeto de Lei 5996/16).

Após a aprovação das urgências, a Ordem do Diafoi encerrada sem a análise do mérito de outras matérias. Não houve acordo para deliberações depois que o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), vice-líder do partido, criticou a aprovação das urgências e pediu a verificação das votações pelo sistema nominal.

“Há muitas matérias que são votadas de afogadilho, sem discussão alguma. Essas matérias precisam passar pelas comissões antes do Plenário”, disse Rocha.

Hildo Rocha afirmou que é contrário ao casamento infantil, mas disse que não há motivo para a votação em regime de urgência da proposta. “Cada vez que o Estado impõe regras às famílias, nós estamos tirando a liberdade de escolha das famílias”, criticou. “Para que essa pressa de trazer para o Plenário?”, questionou.

Já em relação à folga remunerada para avós, Rocha argumentou que a proposta pode aumentar o custo das empresas. “Esse projeto aumenta demais o custo Brasil. Não se ouve nem o microempreendedor, que vai ter que pagar cinco dias de trabalho para o avô”, disse Rocha.

Já as deputadas Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) e Pollyana Gama (PPS-SP) rebateram os argumentos de Rocha. Segundo elas, não haverá aumento de custos para as empresas, porque o benefício é o mesmo que seria pago ao pai da criança.

Acordo
O deputado Carlos Manato (SD-ES), que presidiu os trabalhos, tentou um acordo com Rocha para que as urgências fossem mantidas sob o compromisso de não haver mais deliberações na noite desta segunda-feira.

Rocha, que pretendia anular as duas urgências, concordou em aceitar a aprovação desse regime, abrindo mão da votação pelo sistema nominal. “Se não pode anular as duas [urgências], pode deixar como está. Mas eu quero que registre o meu voto contra”, finalizou.

ÍNTEGRA DA PROPOSTA:

Fonte: Agência Câmara Notícias | 26/03/2018.

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Jurisprudência Mineira – Jurisprudência Cível- Apelação- Ação Declaratória, c/c indenização por danos morais- Responsabilidade Civil- Tabelião- Falsidade- ônus da prova

JURISPRUDÊNCIA CÍVEL

APELAÇÃO – AÇÃO DECLARATÓRIA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – RESPONSABILIDADE CIVIL – TABELIÃO – FALSIDADE – ÔNUS DA PROVA – DANOS MORAIS – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

– Nos casos em que o estelionatário comparece ao Cartório e apresenta documento de identidade tornando impossível o reconhecimento da fraude pelo Tabelião, deve ser afasta a responsabilidade deste em virtude da culpa exclusiva de terceiro.

– O ônus da prova acerca da falsidade de documento recai sobre a parte que a arguir (art. 429, I, NCPC).

– A fixação da verba de sucumbência em ações de natureza condenatória deve levar em consideração o valor da condenação, a proporcionalidade do quantum a ser arbitrado com o grau de zelo do profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

V.V.: – Conforme jurisprudência pacífica dos Tribunais Superiores, em se tratando de atividade cartorária, a responsabilidade do serventuário titular de cartório e registro extrajudicial é objetiva.

Apelação Cível nº 1.0024.15.172268-3/001 – Comarca de Belo Horizonte – Apelante: Antônio Daniel de Oliveira – Apelado: Rafael Rodrigues Diniz – Relatora: Des.ª Cláudia Maia

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 14ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em dar parcial provimento ao recurso, vencida, em parte, a Relatora.

Belo Horizonte, 23 de fevereiro de 2018. – Cláudia Maia – Relatora.

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

DES.ª CLÁUDIA MAIA – Trata-se de recurso de apelação interposto por Antônio Daniel de Oliveira contra sentença proferida pelo Juiz de Direito investido na 15ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, que, nos autos da ação declaratória c/c indenização por danos morais ajuizada por Rafael Rodrigues Diniz, julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais para declarar nulo o reconhecimento de firma efetuado pelo réu e condená-lo ao pagamento da quantia de R$15.000,00, a título de indenização por danos morais.

Nas razões recursais de f. 115/123, o apelante afirma que o Cartório Extrajudicial no qual exerce a função de tabelião titular não praticou o reconhecimento de firma ora discutido. Sustenta a impossibilidade de comprovar essa alegação por se tratar de prova negativa. Aduz que a hipótese dos autos não trata de responsabilidade objetiva e que resta clara a ocorrência de culpa exclusiva de terceiros. Alega a inocorrência de danos morais e pede, eventualmente, a redução do valor arbitrado a título de indenização e honorários sucumbenciais. Requer o provimento do recurso.

Contrarrazões às f. 126/129.

É o relatório.

Conheço do recurso, presentes os pressupostos de admissibilidade.

Cuidam os autos de ação declaratória c/c indenização por danos morais, na qual pretende o autor a condenação do notário responsável pelo 10º Tabelionato de Notas de Belo Horizonte, que teria reconhecido firma em documentos falsos, permitindo que estelionatário adquirisse um veículo, utilizando-se de seus dados.

Pugnou pela procedência da demanda com a declaração de nulidade do negócio jurídico, exclusão das multas existentes em seu nome e a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais.

Os pedidos iniciais foram julgados parcialmente procedentes para declarar a nulidade do reconhecimento de firma e condenar o réu ao pagamento de R$15.000,00, a título de indenização por danos morais.

Pois bem. Inicialmente, destaco ser incontroverso nos autos que o autor não foi o responsável pela apresentação dos documentos de f. 36/42 ao 10º Tabelionato de Notas, tendo o próprio réu afirmado que o autor foi vítima de fraude.

Pretende o requerido, contudo, eximir-se da responsabilidade pelos danos alegados, sob o argumento de que o reconhecimento de firma não foi realizado em seu cartório. Sustenta ainda a aplicação da teoria da responsabilidade subjetiva.

Com relação à responsabilidade dos notários ou tabeliães, cujo exercício decorre de delegação pelo Poder Público, destaco o art. 236 da Constituição Federal que prevê:

“Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público.

§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.

§ 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro.

§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses”.

A Lei 8.935/94, que regulamentou o dispositivo supramencionado, dispõe:

“Art. 22. Os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia, assegurando aos primeiros direito de regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos”.

Da leitura do artigo, infere-se que a responsabilidade dos notários pelos danos causados se dá de forma objetiva, somente perquirindo-se eventual culpa ou dolo de seu preposto em ação regressiva.

Por essa razão, curvo-me ao entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, adotando a teoria da responsabilidade objetiva dos notários nos danos causados a terceiros. A propósito:

“Processual civil. Agravo regimental nos embargos de declaração no recurso em mandado de segurança. Cartório. Irregularidade em lavratura de procuração. Promessa de compra e venda. Procedimento administrativo regular. Atenção aos princípios de ampla defesa e contraditório. – É admissível a sindicância com efeitos punitivos, desde que resguardados os direitos de defesa. Art. 22 da Lei 8.935/94. Responsabilidade objetiva dos notários e oficiais de registro. Multa devida. Agravo regimental a que se nega provimento. 1 – É legal a sindicância instaurada com caráter punitivo e não meramente investigatório ou preparatório de processo disciplinar. Precedente: MS 18.664/DF, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, 1S, julgado em 23/4/2014, DJe 30/4/2014. 2 – Estando as condutas objeto da sindicância perfeitamente subsumidas às normas que serviram de alicerce à imposição da pena de multa, não há ofensa ao princípio da legalidade. 3. Agravo Regimental de Marco Antônio Prates a que se nega provimento” (AgRg nos EDcl no RMS 29.243/RJ, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em 17/9/2015, DJe 25/9/2015).

“Agravo regimental em agravo (art. 544 do CPC). Ação indenizatória. Danos morais e materiais. Reexame fático. Súmula nº 7 do STJ. Notários e registradores. Responsabilidade objetiva. Agravo regimental improvido. 1 – O entendimento desta Corte Superior é de que notários e registradores, quando atuam em atos de serventia, respondem direta e objetivamente pelos danos que causarem a terceiros. 2 – Impossibilidade de reexame da matéria por importar novo enfrentamento do quadro fático delineado na lide. Incidência da Súmula n. 7 do STJ. 3. Agravo regimental não provido” (AgRg no AREsp 110.035/MS, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, j. em 23/10/2012, DJe de 12/11/2012).

Nesse sentido, manifestação desta Câmara:

“Apelação cível. Audiência de conciliação. Não oportunizada a produção de provas. Cerceamento de defesa inocorrente. Ação de indenização por danos materiais e morais. Ato praticado por tabelião no exercício da função. Responsabilidade objetiva. Dever de reparação do dano material. Verificado. Dano moral. Ausente comprovação. Mero dissabor. – Descabe a decretação de nulidade processual no caso em que a ausência de designação de audiência de conciliação não causa qualquer prejuízo às partes, nos termos do art. 249, § 1º, e 250, do CPC, mesmo porque é possível a ocorrência de transação pelas partes a qualquer tempo. No tocante à produção de prova, observa que esta, na verdade, é dirigida ao juiz, que a indeferirá se entender pela sua desnecessidade ou determinará sua realização nos casos que entendê-la imprescindível. – A jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que, em se tratando de atividade cartorária exercida à luz do art. 236 da Constituição Federal, a responsabilidade do serventuário titular de cartório e registro extrajudicial é objetiva. – Considerando que a requerida não agiu de acordo com as formalidades exigidas por sua função e que desta situação decorreram prejuízos de ordem material ao autor, mostra-se evidente a obrigação de reparação pelos prejuízos suportados. – Não constando dos autos prova de que a conduta do tabelião do cartório, pela perda de dados relacionados à transferência do registro imobiliário para o nome do autor, tenha lhe acarretado constrangimento, humilhação, situação vexatória ou lesão à sua esfera íntima, não resta demonstrado o alegado dano moral, razão pela qual deve ser afastada a indenização pretendida pela parte autora a esse título” (TJMG – Apelação Cível nº 1.0249.12.001480-1/001, Relator: Des. Valdez Leite Machado, 14ª Câmara Cível, j. em 29/10/2015, p. em 11/11/2015).

Por outro norte, não restou comprovada qualquer situação passível de eximir o apelante de sua responsabilidade.

Conforme dito anteriormente, é incontroverso que os documentos de f. 36/42 não foram apresentados pelo apelado, tendo sido este vítima de falsário. O apelante, contudo, afirma não ter sido o responsável pelo reconhecimento de firma, tendo sido também vítima de estelionatário que falsificou esse ato.

Ora, tendo o autor instruído a demanda com os documentos aludidos, nos quais constam, ao menos aparentemente, tanto o carimbo quanto a assinatura do Cartório Oliveira – Serviço Notarial do 10º Ofício de BH/MG, caberia ao réu desconstituí-los.

Pairando dúvidas a respeito da autenticidade (formal e material) do documento, o certo é que o ônus da prova recairá sobre quem alega, observado o disposto pelo art. 429 do NCPC:

“Art. 429. Incumbe o ônus da prova quando:

I – se tratar de falsidade de documento ou de preenchimento abusivo, à parte que a arguir;”.

Ocorre que, intimado para especificar provas, o réu pleiteou o julgamento antecipado da lide, afirmando tratar-se de matéria de direito, sendo desnecessária a produção de prova adicional (f. 98).

Cumpre observar, não obstante, que os carimbos e assinaturas constantes dos documentos sob exame não carecem de qualquer mácula aparente, indicando inclusive a matrícula e o funcionário do Cartório responsável. Diante disso, e considerando a ausência de qualquer prova capaz de desconstituir a documentação apresentada, entendo ser ela válida para fins probatórios.

No tocante à condenação ao pagamento de indenização por danos morais, a sentença deverá ser mantida.

Como se sabe, há dano moral quando uma conduta reputada ilícita viola direito da personalidade da vítima, agredindo a honra, imagem, reputação, intimidade e vida privada, por exemplo.

No caso dos autos, entendo que a conduta perpetrada pelo réu contribuiu diretamente para considerável perturbação da tranquilidade e bem-estar do autor, que, além de ter diversas multas de trânsito atribuídas a sua CNH (f. 23/35), teve seu nome envolvido em diversos crimes cometidos por terceiros que se utilizaram do veículo, conforme se verifica dos Boletins de Ocorrência de f. 43/50.

Configurado o dano, examina-se o arbitramento da respectiva indenização. A fixação econômica do dano moral muitas vezes cria situações controvertidas na doutrina e jurisprudência, em razão de o legislador pátrio ter optado, em detrimento dos sistemas tarifados, pela adoção do sistema denominado aberto, em que tal tarefa incumbe ao juiz, tendo em vista o bom-senso e determinados parâmetros de razoabilidade.

Assim, é imprescindível que se realize o arbitramento do dano moral com moderação, em atenção à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte econômico das partes. Ademais, não se pode olvidar, consoante parcela da jurisprudência pátria, acolhedora da tese punitiva acerca da responsabilidade civil, da necessidade de desestimular o ofensor a repetir o ato.

A propósito, Maria Helena Diniz ensina que:

“[…] o juiz determina, por equidade, levando em conta as circunstâncias de cada caso, o quantum da indenização devida, que deverá corresponder à lesão e não ser equivalente, por ser impossível tal equivalência. A reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena e satisfação compensatória. Não se pode negar sua função: penal, constituindo uma sanção imposta ao ofensor; e compensatória, sendo uma satisfação que atenue a ofensa causada, proporcionando uma vantagem ao ofendido, que poderá, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender a necessidades materiais ou ideais que repute convenientes, diminuindo, assim, seu sofrimento” (A responsabilidade civil por dano moral, Revista Literária de Direito, a. II, n. 9, p. 9, jan./fev. 1996).

Nesse sentido, Caio Mário também traz lição preciosa:

“[…] um jogo duplo de noções: a – de um lado, a ideia de punição ao infrator, que não pode ofender em vão a esfera jurídica alheia […]; b – de outro lado, proporcionar à vítima uma compensação pelo dano suportado, pondo-lhe o ofensor nas mãos uma soma que não é o pretium doloris, porém uma ensancha de reparação da afronta […]” (Instituições de direito civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, v. 2, p. 235).

Nessa toada, dadas as particularidades do caso em comento, dos fatos assentados pelas partes, bem como observados os princípios da moderação e da razoabilidade, entendo que o valor de R$15.000,00 arbitrado a título de danos morais deve ser mantido.

Quanto aos honorários sucumbenciais, foram distribuídos na proporção de 30% para o autor e 70% para o réu, tendo o Magistrado singular os fixado em 10% sobre o valor da condenação.

O art. 85, § 2º, estabelece o seguinte:

“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.

[…]

§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:

I – o grau de zelo do profissional;

II – o lugar de prestação do serviço;

III – a natureza e a importância da causa;

IV – o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

[…]

§ 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do § 2º”.

A sentença foi proferida já sob a vigência do novo Código de Processo Civil, cujo diploma prevê o piso de 10% sobre o valor da condenação.

Destarte, incabível a redução do valor arbitrado pelo Juiz a quo, visto que já fixado no patamar legal mínimo.

Cumpre esclarecer que os honorários serão fixados por apreciação equitativa somente “nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo.”, conforme o disposto no § 8º do art. 85.

Com tais considerações, nego provimento ao recurso.

Custas e honorários advocatícios recursais, que fixo em R$800,00, para incluir os recursais, nos termos do art. 85, §§ 2º e 11, do NCPC, pelo apelante.

DES. ESTEVÃO LUCCHESI – Peço vênia à culta Relatora para divergir relativamente à existência de causa excludente de responsabilidade.

Como cediço, o art. 236 da Constituição da Federal dispõe que:

“Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do poder público.

§ 1º A Lei regulará as atividades e disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário”.

Noutro passo, a Lei nº 8.935/94, que regulamentou o citado art. 236 da CF, preceitua, em seu art. 22:

“Art. 22. Os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia, assegurado aos primeiros direito de regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos”.

De igual forma, necessário registrar que a responsabilidade do notário pelos danos causados é objetiva, conforme leciona Yussef Said Cahali:

“[…] na linha do princípio inovador inserto no art. 37, § 6º, da Constituição e da nova legislação ordinária ajustada aos seus enunciados, a responsabilidade civil dos notários e oficiais de registro define-se como sendo igualmente objetiva, a prescindir de qualquer perquirição a respeito do elemento subjetivo do dolo ou culpa de seus prepostos […]” (Responsabilidade civil do Estado. 2. ed. São Paulo: Malheiros, p. 348).

No entanto, a obrigação dos notários e dos oficiais de registro não surge inexoravelmente diante do dano, sendo necessário perquirir acerca da presença de uma das causas excludentes da responsabilidade: caso fortuito, força maior, culpa exclusiva de terceiro ou da vítima.

No caso dos autos, o autor informou na exordial que foi vítima de assalto e teve seus documentos pessoais roubados.

Noutro passo, para realizar o reconhecimento de firma o falsário apresentou a carteira de identidade f. 39, que obviamente não pode ser considerada uma falsificação grosseira.

Outrossim, as assinaturas apostas pelo falsário, notadamente aquela cuja firma foi reconhecida, são idênticas à presente no documento de f. 39, tornando impossível ao tabelião identificar a existência da fraude.

Desse modo, a falsidade e fraude enganaram o tabelião do 10º Tabelionato de Notas de Belo Horizonte, que não tinha como perceber que o individuo que compareceu ao Cartório era um estelionatário e tampouco motivos para exigir outros documentos além daquele apresentado.

Nesse diapasão, deve ser reconhecida a culpa exclusiva de terceiro para afastar a responsabilidade do réu e sua obrigação de indenizar. Do Tribunal de Justiça Mineiro, confira-se:

“Tabelião de notas. Responsabilidade objetiva. Reconhecimento de firma. Procuração. Apresentação de documento de identidade. Cartões de registro de firma. Assinatura lançada em cartório. Impossibilidade de identificação da falsidade do documento. – O notário e oficial registrador desempenham função pública em caráter privado, mediante delegação do poder público, respondendo, em princípio, objetivamente pelos danos que eles e seus prepostos causarem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia, conforme exegese do § 6º do art. 37 c/c o art. 236 da Constituição Federal e com o art. 22 da Lei 8.935/94. Todavia, a apresentação de documento de identidade pelo estelionatário que compareceu ao Cartório para registrar e reconhecer a firma/assinatura na procuração outorgada ao advogado, que o acompanhava, exclui a responsabilidade do tabelião do Cartório de Registro de Notas” (TJMG

– Apelação Cível nº 1.0145.11.041749-3/001, Relator: Des. Marcos Lincoln, 11ª Câmara Cível, j. em 28/8/2013, p. em 30/8/2013).

“Ação de indenização. Tabelião de notas. Responsabilidade objetiva. Reconhecimento de firma. Apresentação de certificado de registro do veículo. Assinatura lançada em contrato de compra e venda. Semelhança das assinaturas. Impossibilidade de identificação da falsidade. Estelionato praticado por terceiro. Excludente de responsabilidade. – O notário e oficial registrador respondem, em regra, objetivamente pelos danos que eles e seus prepostos causarem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia, conforme disposto nos arts. 37, § 6º e 236 da Constituição Federal, bem como no art. 22 da Lei 8.935/94. Todavia, a semelhança da assinatura presente no certificado de registro de veículo apresentado por estelionatário ao tabelião, para fins de reconhecimento da firma aposta em contrato pelo qual venderia automóvel ao requerente, exclui a responsabilidade do tabelião do Cartório de Registro de Notas” (TJMG – Apelação Cível nº 1.0027.11.022876-7/001, Relator: Des. Luiz Artur Hilário, 9ª Câmara Cível, j. em 15/2/2017, p. em 13/3/2017).

Por todo o exposto, dou parcial provimento ao recurso para julgar improcedente o pedido inicial de indenização por danos morais.

Custas recursais, processuais e honorários de sucumbência, que fixo em R$1.500,00 (mil e quinhentos reais), na proporção de 80% (oitenta por cento) pelo autor e 20% (vinte por cento) pelo réu, suspensa a exigibilidade em relação ao demandante, por se encontrar sob o pálio da justiça gratuita.

DES. MARCO AURELIO FERENZINI – Peço vênia à ilustre Relatora, Des.ª Cláudia Maia, para dela divergir e dar provimento ao recurso, nos termos do voto proferido pelo eminente Des. Estevão Lucchesi.

DES. VALDEZ LEITE MACHADO – Peço vênia à d. Relatora para aderir à divergência inaugurada pelo i. Desembargador Estevão Lucchesi, uma vez que o réu não pode ser responsabilizado por atos de estelionatários que falsificam documentos com perfeição.

DES.ª EVANGELINA CASTILHO DUARTE – De acordo com a Relatora.

Súmula: DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDA, EM PARTE, A RELATORA.

Fonte: Recivil – DJE/MG | 27/03/2018.

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Registro de Imóveis – Pedido de cancelamento de averbação do encerramento de matrícula – Ocupação de fato equivocada dos lotes que obsta o uso da via administrativa – Remessa às vias ordinárias – Recurso desprovido.

Número do processo: 0071632-63.2012.8.26.0100

Ano do processo: 2012

Número do parecer: 230

Ano do parecer: 2017

Parecer

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

Processo CG n° 0071632-63.2012.8.26.0100

(230/2017-E)

Registro de Imóveis – Pedido de cancelamento de averbação do encerramento de matrícula – Ocupação de fato equivocada dos lotes que obsta o uso da via administrativa – Remessa às vias ordinárias – Recurso desprovido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça,

Trata-se de recurso administrativo interposto contra sentença que julgou improcedente pedido de providências instaurado em razão do pedido de cancelamento de averbação do encerramento da matrícula n° 4.863 do Sétimo Oficial de Registro de Imóveis da Comarca da Capital.

No curso do pedido de providências, houve a realização de prova pericial (fls. 90/139) e foram prestados esclarecimentos (fls. 358/375).

Manifestação da interessada Maria Aparecida de Oliveira (fls. 225/250), na qual impugnou o pedido.

A D. Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo desprovimento do recurso (fls. 437/439).

É o relatório.

Passo a opinar.

Os recorrentes pretendem o cancelamento da averbação do encerramento da matrícula 4.863, correspondente ao lote 15 da quadra 20 do Jardim Centenário, Distrito de Guaianazes, por ter sido objeto de ação de usucapião. Concomitantemente ao encerramento da referida matrícula, houve a abertura da matrícula n° 161.927, em nome da interessada Maria Aparecida de Oliveira.

No curso deste pedido de providências, houve a produção de prova pericial. Concluído o trabalho pericial, constatou-se a inadequação da via administrativa para a solução do problema.

O conjunto probatório indicou que os recorrentes adquiriram o lote 15, mas ocupam o lote 14. A interessada e impugnante, por sua vez, adquiriu o lote 16, mas ocupa o lote 15. Evidenciou-se, assim, um erro na ocupação de fato dos imóveis. E esse erro não permite a simples reativação da matrícula e sua retificação como se pretende, mas exige o ajuizamento da ação de usucapião, já que a medida postulada tem o potencial de atingir o interesse de terceiros.

Houve a ocupação errónea dos lotes e não erro no ato de registro, a afastar a possibilidade da obtenção de solução administrativa da questão. Não se trata de mero erro na numeração dos lotes ou de retificação intramuros, mas de questão que está relacionada à titularidade do domínio dos lotes, a impor a adoção das vias ordinárias pelos envolvidos.

Ante o exposto, o parecer que submeto a Vossa Excelência propõe, respeitosamente, que se negue provimento ao recurso.

Sub censura.

São Paulo, 12 de junho de 2017.

Paula Lopes Gomes

Juíza Assessora da Corregedoria

DECISÃO: Aprovo o parecer da MMª Juíza Assessora da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, nego provimento ao recurso administrativo. Publique-se. São Paulo, 12 de junho de 2017. (a) MANOEL DE QUEIROZ PEREIRA CALÇAS, Corregedor Geral da Justiça – Advogados: LUCIANE CAÍRES BENAGLIA, OAB/SP 279.138, MÁRCIA DE QUEIROZ, OAB/ SP 251.741, WELESSON JOSÉ REUTERS DE FREITAS, OAB/SP 160.641, PRISCILA LAURICELLA, OAB/SP 271.982, JOSÉ EDUARDO MENDES, OAB/SP 249.649 e NELSON LUIZ NOUVEL ALESSIO, OAB/SP 61.713 – DEMAP 13.

Diário da Justiça Eletrônico de 20.07.2017

Decisão reproduzida na página 191 do Classificador II – 2017

Fonte: INR Publicações.

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