Recivil solicita providências ao CNJ em relação ao Provimento 74/2018

Sindicato destacou pontos exigidos pelo texto e que são de difícil cumprimento pelas serventias

No dia 12 de setembro de 2018 o Recivil protocolizou no Conselho Nacional de Justiça uma petição no Pedido de Providências nº 0002759-34.2018.2.0000 solicitando alterações no Provimento nº 74/2018 do CNJ que, segundo o Sindicato, apresenta disposições muito difíceis e até impossíveis de serem implantadas pela maioria dos registradores civis do estado.

O texto da petição juntada no Pedido de Providências foi dividido em três partes e apresentou um panorama sobre a realidade dos registradores civis, na sequência as providências constantes no Provimento vistas pelo Sindicato como vagas ou impossíveis de serem implantadas.

De acordo com o coordenador do Departamento Jurídico do Recivil, Felipe Mendonça, o texto precisa ser reavaliado para se adequar à realidade dos registradores civis.

“O Recivil ingressou no pedido de providências que originou o Provimento nº 74 do CNJ com o objetivo de demonstrar para o Corregedor Nacional de Justiça as dificuldades ou, até mesmo, a impossibilidade do Registrador Civil mineiro, sobretudo aqueles dependentes de complementação de renda mínima ou com baixa arrecadação, de satisfazerem todas as exigências contidas no referido ato normativo. É importante ressaltar também que muitas das exigências contidas no Provimento nº 74 do CNJ sequer dependem do Oficial, uma vez que os próprios municípios ou distritos não oferecem a infraestrutura desejada”, explicou o advogado.

O texto apresenta à Corregedoria Nacional de Justiça a realidade de Minas Gerais, que possui quase 1.500 serventias de Registro Civil das Pessoas Naturais, sendo aproximadamente 400 delas dependentes da renda mínima mensal.

O documento questiona a capacidade financeira dos cartórios menores para atenderem as exigências impostas pelo Provimento nº 74/2018.

Exigências impossíveis de serem atendidas

Entre os itens levantados pelo documento está a exigência da energia estável, rede elétrica aterrada e link de comunicação de dados mínimos. De acordo com o Sindicato, muitas serventias mineiras carecem de distribuidora de energia de qualidade e de edificações com aterramento da rede, o que não depende da proatividade dos registradores.

O texto salienta ainda que o link de comunicação de dados mínimos também não está condicionado à atitude do oficial, uma vez que em muitos lugares de Minas Gerais ainda há  dificuldade na obtenção de rede de internet.

O local técnico isolado dos demais ambientes e climatizado para a instalação dos servidores também foi ponto de questionamento.

Flexibilização de exigências

O pedido trouxe ainda casos em que as exigências poderiam ser atendidas de maneiras mais simples e acessíveis pelas serventias, como o armazenamento em dispositivos, uma vez que muitas serventias já utilizam o HD externo de forma eficaz.

Em relação à unidade de alimentação ininterrupta (Nobreak) o Sindicato acredita que aparelhos com a capacidade de autonomia de 30 minutos têm um custo elevado para muitas serventias, dessa maneira, sugeriu que seja obrigatório para as serventias pertencentes à classe 1 a unidade de alimentação ininterrupta sem definição de autonomia mínima.

Outro ponto destacado foi a exigência de servidor de alta disponibilidade para retomada de atendimento em até 15 minutos após eventual pane.

No documento, o Recivil salientou que devido a incapacidade financeira e de contratação de pessoal habilitado, o investimento em dois servidores com funções e configurações equivalentes não se justifica. O Sindicato sugeriu que a exigência fosse excluída, ou, caso seja impossível, que seja permitida a utilização de um computador substituto compatível com a arrecadação da serventia, até que o servidor principal seja reestabelecido.

Em relação à exigência de Firewall e Proxy, o Sindicato sugeriu a utilização de software ou aplicativo com funções similares e que sejam compatíveis com a arrecadação das serventias.

Por fim, o Recivil sugeriu ainda que fossem revistas as classes apresentadas no Provimento, visto que as exigências são praticamente as mesmas para todas elas.

Fonte: Recivil | 12/09/2018.

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Supremo Tribunal Federal não admite ensino domiciliar

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu, nesta quarta-feira (12), o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 888815, que discutiu se o ensino domiciliar (homeschooling) poderia ser considerado meio lícito de cumprimento, pela família, do dever de prover a educação dos filhos. O STF negou provimento ao recurso por maioria de votos. Ficaram vencidos o ministro relator Luís Roberto Barroso e, em parte, o ministro Edson Fachin. O ministro Alexandre de Moraes, que inaugurou a divergência, foi acompanhado pela maioria.

Com repercussão geral reconhecida, o recurso teve origem em mandado de segurança impetrado pelos pais de uma menina, então com 11 anos, contra ato da Secretaria de Educação do Município de Canela (RS), que negou pedido para que ela fosse educada em casa, recomendando sua matrícula na rede regular de ensino. O recurso questiona atos do Juízo da Comarca de Canela e do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) que consideraram válida a decisão da Secretaria Municipal de Educação.

Quando o julgamento teve início, no último dia 6, o ministro Barroso votou pelo provimento do recurso extraordinário para garantir o direito à educação em casa, respeitados os parâmetros apresentados no voto. Ele explicou que a discussão não está em saber se o ensino domiciliar é melhor ou pior, mas envolve o “respeito às opções e circunstâncias de quem prefere um caminho diferente”. Segundo o relator, as motivações dos pais que optam pelo ensino domiciliar demonstra a preocupação genuína com o desenvolvimento educacional pleno e adequado dos seus filhos. “Nenhum pai ou mãe faz essa opção, que é muito mais trabalhosa, por preguiça ou capricho”, afirmou, considerando haver razões relevantes e legítimas para que essa opção possa ser respeitada pela Constituição.

Na ocasião, o representante da Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), Gustavo Afonso Sabóia Vieira, afirmou que o homeschooling é uma modalidade que possui inúmeros casos de sucesso. Segundo ele, hoje há no Brasil pelo menos 15 mil alunos sendo educados em casa, um crescimento de 2000% em relação a 2011. Vieira apontou que, de acordo com pesquisa da ANED, 32% dos pais que aderiram a esse modelo estão em busca de uma educação mais personalizada para seus filhos e 23% revelam insatisfação com o ambiente escolar.

Vieira defendeu que esse modelo gera socialização em níveis satisfatórios e aceitáveis, citando estudos dos EUA que mostram, segundo ele, não haver diferenças relevantes no comportamento entre as crianças educadas em casa e aquelas matriculadas na escola.

Representando 20 unidades da federação, o procurador de Mato Grosso do Sul (MS), Ulisses Schwarz Viana, apontou que a Constituição Federal (CF) estabeleceu um modelo educacional cooperativo, com a participação do Estado e da família, lembrando que o artigo 206 prevê que um dos princípios do ensino no País é a permanência na escola.

O parecer da Advocacia Geral da União foi de que não há na Constituição Federal espaço para que o Estado abra mão do seu dever na educação em favor de outro agente que também tem responsabilidade no processo educativo, como a família.

O vice-procurador-geral da República, Luciano Maia, defendeu que o homeschooling não é uma modernidade, mas “uma volta ao passado, ao que se aplicava no início do século quando ainda era difícil ao Estado se organizar e identificar que era um dever dar educação para todos”.

O primeiro ministro a falar hoje (12) foi Alexandre de Moraes que inaugurou a divergência. Para ele, a Constituição Federal não proíbe o ensino domiciliar, porém a prática carece de legislação que a regulamente. O ministro Edson Fachin permitiu o ensino domiciliar e foi além, estabelecendo o prazo de um ano para o Congresso regulamentar o modelo pedagógico.

A ministra Rosa Weber acompanhou a divergência de Moraes e entendeu que a prática não é inconstitucional, mas que não pode ser liberada por não haver lei. Em seguida, o ministro Luiz Fux votou pela inconstitucionalidade do homeschooling. O ministro Ricardo Lewandowisk votou também pela inconstitucionalidade do ensino domiciliar. “Entendo que não há razão para retirar uma criança da escola oficial em decorrência da insatisfação de alguns com a qualidade do ensino. A solução para pretensa deficiência seria dotá-las de mais recursos estatais e capacitar melhor os professores”, disse.

O ministro Gilmar Mendes também acompanhou a divergência do ministro Alexandre de Moraes e negou provimento ao recurso. O ministro Marco Aurélio concluiu no sentido de desprover o recurso e vedar a possibilidade do ensino domiciliar. Último a votar, o ministro Dias Toffoli acompanhou a divergência pela “dificuldade de ver um direito líquido e certo imediato”, mas não concordou com a inconstitucionalidade desse tipo de ensino.

Barroso ainda expôs que, na sua visão, o homeschooling é uma opção legítima dentro de um regime de liberdade e maioria dos países desenvolvidos no mundo admitem a prática. “A maior parte deste Tribunal entende que a matéria depende da legislação, acho que é um ponto de vista extremamente razoável. Eu considero que se trata de um direito e não considero que omissão legislativa possa frustrar esse direito”, disse.

A ministra Cármen Lúcia finalizou a sessão proclamando o resultado do julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 888815 ao qual se negou provimento. “Faço coro com aqueles que divergiram ao afirmar que não tendo um marco normativo específico ainda é tempo de negar provimento ao recurso nos termos do voto do ministro Alexandre de Moares, sem nada a dizer sobre a inconstitucionalidade da educação em casa”, disse a ministra.

Fonte: IBDFAM | 12/09/2018.

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Recurso do autor – Ação declaratória – Alegação do autor que iniciou sua vida profissional no Ofício do Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica e Tabelião de Protestos de Letras e Títulos de Santo Anastácio – SP, nas funções de preposto auxiliar de 01/12/1986 a 08/11/1990 e de preposto escrevente de 09/11/1990 a 09/02/2017 – Pretensão da procedência da ação para que seja declarado o direito do autor no recebimento de licença prêmio e quinquênio, com a condenação do requerido no pagamento de indenização correspondente a 18 (dezoito) meses de licença prêmio não gozada – Sentença de improcedência – Inconformismo do autor – Restou incontroverso que o requerido, ao assumir a delegação, não recepcionou o autor, fato este comprovado pelo documento (fls. 19), onde consta expressamente que a partir da entrada em exercício do requerido haveria a dispensa do autor – Assim, a delegação do serviço notarial ou registral é feita de forma originária, por meio de concurso público, sem qualquer vínculo laboral entre o serventuário estatutário e o novo titular – Não pode o titular atual responder pelas relações jurídicas constituídas por seus antecessores – Majoração da verba honorária (contrarrazões), observada a gratuidade judiciária – Precedentes deste Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo – Sentença de improcedência, mantida – Recurso do autor, improvido.

ACÓRDÃO  Decisão selecionada e originalmente divulgada pelo INR 

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 1002324-43.2017.8.26.0553, da Comarca de Santo Anastácio, em que é apelante RENATO CLEPS, é apelado LUCAS MARTINS DE OLIVEIRA, DELEGADO DO REGISTRO DE IMOVEIS, TITULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURIDICA E TABELIÃO.

ACORDAM, em 11ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: “Negaram provimento ao recurso. V. U.”, de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RICARDO DIP (Presidente) e AROLDO VIOTTI.

São Paulo, 21 de agosto de 2018.

MARCELO L THEODÓSIO

RELATOR

Assinatura Eletrônica

APELAÇÃO nº 1002324-43.2017.8.26.0553

APELANTE: RENATO CLEPS

APELADO: LUCAS MARTINS DE OLIVEIRA, DELEGADO DO REGISTRO DE IMOVEIS, TITULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURIDICA E TABELIÃO

COMARCA: SANTO ANASTÁCIO

VOTO Nº 12406

RELATOR: MARCELO L THEODÓSIO

RECURSO DO AUTOR – Ação declaratória – Alegação do autor que iniciou sua vida profissional no Ofício do Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica e Tabelião de Protestos de Letras e Títulos de Santo Anastácio  SP, nas funções de preposto auxiliar de 01/12/1986 a 08/11/1990 e de preposto escrevente de 09/11/1990 a 09/02/2017  Pretensão da procedência da ação para que seja declarado o direito do autor no recebimento de licença prêmio e quinquênio, com a condenação do requerido no pagamento de indenização correspondente a 18 (dezoito) meses de licença prêmio não gozada  Sentença de improcedência  Inconformismo do autor.

Restou incontroverso que o requerido, ao assumir a delegação, não recepcionou o autor, fato este comprovado pelo documento (fls. 19), onde consta expressamente que a partir da entrada em exercício do requerido haveria a dispensa do autor – Assim, a delegação do serviço notarial ou registral é feita de forma originária, por meio de concurso público, sem qualquer vínculo laboral entre o serventuário estatutário e o novo titular  Não pode o titular atual responder pelas relações jurídicas constituídas por seus antecessores – Majoração da verba honorária (contrarrazões), observada a gratuidade judiciária  Precedentes deste Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo – Sentença de improcedência, mantida – Recurso do autor, improvido.

Trata-se de ação declaratória movida por RENATO CLEPS em face do LUCAS MARTINS DE OLIVEIRA, alegando, em síntese, que iniciou sua vida profissional no Ofício do Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica e Tabelião de Protestos de Letras e Títulos de Santo Anastácio  SP, nas funções de preposto auxiliar de 01/12/1986 a 08/11/1990 e de preposto escrevente de 09/11/1990 a 09/02/2017. Alegou que durante toda sua vida profissional esteve vinculado ao Regime Estatutário. No entanto, aduz que teve suprimidos alguns direitos estabelecidos no Provimento 14/91 da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo. Asseverou que durante todo o tempo em que trabalhou vinculado ao Ofício do Registro de Imóveis desta comarca nunca lhe foi concedida as verbas decorrentes dos quinquênios, com previsão no item 4, do Capítulo V, do Provimento nº 14/91, e os períodos de licenças prêmio, com previsão no item 48, do Capítulo IV, da Subseção VIII, desse mesmo provimento. Desta feita, postulou a procedência da ação para que seja declarado o direito do autor ao recebimento de licença prêmio e quinquênio, com a condenação do requerido ao pagamento de indenização correspondente a 18 (dezoito) meses de licença prêmio não gozada, cujo valor deverá ser apurado em liquidação de sentença, bem como lhe seja declarado o direito ao recebimento do adicional por tempo de serviço  quinquênio, condenando o requerido no pagamento de indenização correspondente aos percentuais de 5% por quinquênio não aplicados nas épocas próprias sobre os seus vencimentos referentes aos períodos de 01.12.1986 a 01.12.1991, 01.12.1991 a 01.12.1996, 01.12.1996 a 01.12.2001, 01.12.2001 a 01.12.2006, 01.12.2006 a 01.12.2011, 01.12.2011 a 01.12.2016, cujos valores deverão ser apurados em liquidação de sentença. Com a inicial (fls. 01/13) vieram documentos (fls. 14/94).

Fora determinado ao autor a juntada de documentos (fls. 95), sobrevindo a petição de fls. 98/99, com documentos (fls. 100/109).

O requerido apresentou contestação às fls. 110/133, alegando, em preliminar, carência da ação por ilegitimidade passiva, pois alega que o autor encerrou sua atividade profissional no Ofício de Registro de Imóveis antes da investidura do requerido em sua delegação, sendo certo que o contestante não recepcionou o autor. De outro modo, postulou a denunciação da lide aos responsáveis pelo cartório à época em que o autor nele trabalhava. No mérito, alegou que a delegação da titularidade por concurso tem natureza originária, de modo que não pode ser responsabilizado pelos encargos trabalhistas oriundos da gestão do antigo oficial. Em relação à licença prêmio, asseverou que o autor não logrou demonstrar o cumprimento de todos os requisitos para o seu efetivo recebimento, mormente assiduidade num período não superior a 30 (trinta) dias de afastamento. De outro modo, sustentou que em caso de entendimento de serem devidas as verbas decorrentes de licença prêmio, os valores devem ser calculados sobre o salário base do autor e não sobre o total da verba recebida. Arguiu também a prescrição do direito do autor no recebimento de eventuais valores. Em relação ao adicional por tempo de serviço quinquênio, contestou genericamente o pedido do autor, alegando que em caso de reconhecimento de ser devido o pagamento deste adicional, os valores devem incidir somente sobre o salário base do autor. Alegou que a pretensão do autor esbarra na prescrição trienal do artigo 206, § 3º IV e V, do CC. Ao final, postulou o acolhimento das preliminares, extinguindo-se o feito sem resolução de mérito ou excluindo-se o requerido do polo passivo da demanda. Requereu a denunciação da lide e, ao final, postulou a improcedência dos pedidos do autor. Juntou documentos (fls. 134/147).

Foram deferidos ao autor os benefícios da assistência judiciária gratuita (fls. 148).

Réplica às fls. 152/171.

A r. sentença às fls. 172/179, julgou improcedente o pedido formulado por RENATO CLEPS em face de LUCAS MARTINS DE OLIVEIRA, com fundamento no artigo 487, inciso I, do CPC/15. Sucumbente, arcou o autor com o pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios que arbitro em R$ 2.000,00, nos termos do artigo 85, § 8º, do CPC/15, observada a gratuidade judiciária.

Inconformado, o autor interpôs recurso de apelação às fls. 192/207, requerendo, em síntese, seja dado provimento ao apelo, para julgar procedente a ação.

Contrarrazões (fls. 211/223), requer, em suma, a condenação do apelante no pagamento dos honorários sucumbenciais, nos termos do artigo 85, § 1°, do CPC/15, além das custas e despesas processuais.

Oposição ao julgamento virtual (fls. 227).

É O RELATÓRIO.

O recurso do autor não comporta provimento.

No presente caso, o autor, ora apelante, alegou, em síntese, que iniciou sua vida profissional no Ofício do Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica e Tabelião de Protestos de Letras e Títulos de Santo Anastácio  SP, nas funções de preposto auxiliar de 01/12/1986 a 08/11/1990 e de preposto escrevente de 09/11/1990 a 09/02/2017. Alegou que durante toda sua vida profissional esteve vinculado ao Regime Estatutário. No entanto, aduziu que teve suprimidos alguns direitos estabelecidos no Provimento 14/91 da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo. Asseverou que durante todo o tempo em que trabalhou vinculado ao Ofício do Registro de Imóveis desta comarca nunca lhe foi concedida as verbas decorrentes dos quinquênios, com previsão no item 4, do Capítulo V, do Provimento nº 14/91, e os períodos de licenças prêmio, com previsão no item 48, do Capítulo IV, da Subseção VIII, desse mesmo provimento. Desta feita, postulou a procedência da ação para que seja declarado o direito do autor ao recebimento de licença prêmio e quinquênio, com a condenação do requerido no pagamento de indenização correspondente a 18 (dezoito) meses de licença prêmio não gozada, cujo valor deverá ser apurado em liquidação de sentença, bem como lhe seja declarado o direito ao recebimento do adicional por tempo de serviço  quinquênio, condenando o requerido no pagamento de indenização correspondente aos percentuais de 5% por quinquênio não aplicados nas épocas próprias sobre os seus vencimentos referentes aos períodos de 01.12.1986 a 01.12.1991, 01.12.1991 a 01.12.1996, 01.12.1996 a 01.12.2001, 01.12.2001 a 01.12.2006, 01.12.2006 a 01.12.2011, 01.12.2011 a 01.12.2016, cujos valores deverão ser apurados em liquidação de sentença.

A r. sentença da Juíza a quo às fls. 172/179, por sua vez, bem fundamentada, assim decidiu:

“[…].

O autor pleiteia em juízo a condenação do requerido ao pagamento das verbas atinentes aos quinquênios e licença-prêmio pelo tempo em que laborou junto ao cartório de Registro de Imóveis desta comarca.

É incontroverso nos autos que o autor não logrou o recebimento de quaisquer valores concernentes a estas verbas.

Também é incontroverso nos autos que o autor não era regido pela CLT. A lei 8.935/94 (Lei dos Notários e Registradores) veio regulamentar o artigo 236 da Constituição Federal, dispondo sobre a organização das serventias extrajudiciais e de seus funcionários, determinando que os novos escreventes e serventuários deveriam ser contratados sob o regime da legislação trabalhista, conforme o art. 48 da citada lei.

No entanto, instituiu uma regra de transição, facultando aos atuais funcionários que, no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data de sua publicação, fizessem a opção pelo regime celetista ou a manutenção do regime estatutário e especial. Decorrido o prazo sem que o funcionário fizesse a opção, a lei é clara que, na omissão, continuariam os serventuários regidos pelas normas aplicáveis aos funcionários públicos.

Com efeito, o autor enquadra-se na categoria de estatutário, haja vista que ele não fez a opção pelo regime celetista, tendo iniciado suas funções junto ao Cartório de Registro de Imóveis em 1986, na esteira da certidão juntada às fls. 17/18, logo está sujeito ao regime especial dos funcionários públicos, previsto no Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de São Paulo (Lei estadual 10.261/68), sujeitando-se, também, às Normas da Corregedoria Geral de Justiça.

[…].

In casu, também é incontroverso que o requerido, ao assumir a delegação, não recepcionou o autor, fato este comprovado pelo documento juntado às fls. 19, onde consta expressamente que a partir da entrada em exercício do requerido haveria a dispensa do autor.

Nessa senda, pugno do entendimento de que a delegação do serviço notarial ou registral é feita de forma originária, por meio de concurso público, sem qualquer vínculo laboral entre o serventuário estatutário e o novo titular.

[…].

Na esteira desse entendimento, reputo que o titular atual não pode responder pelas relações jurídicas constituídas por seus antecessores.

A meu sentir, não tendo o autor vínculo laboral com o requerido, inexiste o dever deste de assumir obrigações trabalhistas do antigo titular, sendo a improcedência medida que se impõe.

[…].

Por fim, saliento que as demais teses arguidas pelas partes não tiveram o condão de infirmar a convicção do juízo para a improcedência do pleito autoral.

[…].”.

Assim, o conjunto probatório carreado aos autos, corroborou para que a Juíza a quo proferisse com exatidão a r. sentença, que por sua vez bem fundamentada, analisou in casu todos os elementos fático-jurídicos alegados pelas partes.

In casu consimili, já decidiu este Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:

“FUNCIONÁRIO DE CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL  LICENÇA PRÊMIO E QUINQUÊNIOS. Competência da Justiça Estadual  Precedentes – Autor que se aposentou dois anos antes de o réu assumir a delegação Vínculo de trabalho rompido  Solução de continuidade verificada  Inexistência de dever de assumir as obrigações trabalhistas do antigo titular  Delegação do serviço que se dá de forma originária  Preliminares afastadas  Improcedência da ação  Recurso provido.” (TJSP  Apelação nº 1006461-55.2013.8.26.0053. 7ª Câm. Dir. Público. Rel. Des. MOACIR PERES, j. 25/08/2014);

“APELAÇÃO – SERVENTIA EXTRAJUDICIAL – ESCREVENTES E AUXILIARES EM REGIME ESPECIAL – VERBAS RESCISÓRIAS E INDENIZAÇÃO – Serventuário admitido na serventia antes da CF/88 e não optante pelo regime celetista – Art. 48, § 2º, da Lei nº 8.935/1994 – Não recepção pela atual titular da delegação – Ausência de vínculo laboral com a nova titular – Sentença de improcedência. CERCEAMENTO DE DEFESA – Inocorrência – Provas suficientes para a solução da lide. PRESCRIÇÃO – Inocorrência – Não transcurso de três anos entre a dispensa e o ajuizamento – Aplicação do art. 206, § 3º, do CC, por não se tratar de demanda contra a Fazenda Pública. VERBAS RESCISÓRIAS – Descabimento – Serventuário sujeito ao regime especial ou híbrido – Estabilidade inexistente – Possibilidade de dispensa ou não recepção imotivada – Delegação do serviço notarial ou registral é feita de forma originária e personalíssima, mediante concurso público, sem qualquer vínculo com o anterior responsável – Inexistência de vínculo laboral com o novo titular – Solução de continuidade verificada – Inexistência de dever de assumir as obrigações trabalhistas do antigo titular – Serventuário que, aliás, assumiu interinamente a delegação, de forma precária, nos dois anos anteriores à investidura da nova titular – Inteligência dos arts. 37 e 236 da CF e 19 do ADCT. INDENIZAÇÃO – Descabimento – Provimento nº 14/91 que, além de superada pela posterior edição da Lei Federal nº 8.935/94 e outras normas internas do Tribunal editadas sobre a matéria, extrapolou o âmbito de atuação da Corregedoria Geral de Justiça, a quem não compete fixar indenização por rompimento de vinculo entre serventuário e serventia extrajudicial – Inteligência do Parecer da Corregedoria no Processo nº 2012/41723, de 02/07/2012 – Precedentes. DANOS MORAIS – Inocorrência – HONORÁRIOS – Majoração para 10% do valor da causa, nos termos do art. 20 do CPC. Sentença de improcedência reforma, em pequena parte, tão somente para majorar a verba honorária – Recurso de apelação do autor improvido e recurso adesivo do patrono da ré provido.” (TJSP, Apelação nº 0010048-11.2014.8.26.0266, 3ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. MAURÍCIO FIORITO, j. em 14/6/2016).

No tocante ao pedido constante das contrarrazões (majorar os honorários advocatícios), comporta acolhimento, uma vez que o NCPC passou a vigorar em 18 de março de 2016 e, a r. sentença da juíza “a quo” foi prolatada em 4 de abril de 2018 (fls. 126/133).

No mais, o Enunciado administrativo número 7 do E. STJ, estabelece: “Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85, parágrafo 11, do novo CPC”.

Desse modo, ficam majorados os honorários advocatícios, em grau recursal em R$ 1.000,00 (um mil reais), equitativamente, nos termos do artigo 85, do Novo Código de Processo Civil, devendo ser somado com os R$ 2.000,00, já fixados na r. sentença monocrática (fls. 126/133). Desse modo, totalizando-se a verba honorária o valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), observada a gratuidade judiciária.

Por fim, a r. sentença às fls. 172/179 proferida pela eminente magistrada doutora Viviane Cristina Parizotto Ferreira, merece prevalecer in totum por seus próprios e jurídicos fundamentos.

Considera-se prequestionada toda matéria infraconstitucional e constitucional, observando-se que é pacífico no Egrégio Superior Tribunal de Justiça que, tratando-se de prequestionamento, é desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido decidida. E mais, os embargos declaratórios, mesmo para fins de pré-questionamento, só são admissíveis se a decisão embargada estiver eivada de algum dos vícios que ensejariam a oposição dessa espécie recursal (STJ, EDROMS 18205 / SP, Ministro FELIX FISCHER, DJ 8/5/2006, p. 240).

Ante o exposto, nego provimento ao recurso do autor, destarte, mantendo-se a r. sentença tal como lançada. Por sua vez, ficam majorados os honorários advocatícios, em grau recursal em R$ 1.000,00 (um mil reais), equitativamente, nos termos do artigo 85, do Novo Código de Processo Civil, devendo ser somado com os R$ 2.000,00, já fixados na r. sentença monocrática (fls. 126/133). Desse modo, totalizando-se a verba honorária o valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), observada a gratuidade judiciária.

MARCELO L THEODÓSIO

Relator –   /

Dados do processo:

TJSP – Apelação Cível nº 1002324-43.2017.8.26.0553 – Santo Anastácio – 11ª Câmara de Direito Público – Rel. Des. Marcelo L Theodósio – DJ 30.08.2018

Fonte: INR Publicações.

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